Levantamento com o instrumento SPHERE fotografou estruturas que revelam a presença de asteroides, cometas e indícios de gigantes invisíveis
O que a equipe fez
Usando o Very Large Telescope (VLT) do Observatório Europeu do Sul (ESO), pesquisadores observaram 161 estrelas próximas e identificaram 51 sistemas com discos de detritos — anéis de poeira formados por colisões entre asteroides e cometas. Os resultados foram publicados na revista Astronomy and Astrophysics.
Em entrevista ao Space.com, o coautor Gaël Chauvin, cientista do projeto SPHERE, definiu o conjunto de imagens como “um tesouro astronômico”. Segundo ele, a observação da poeira permite inferir a existência de corpos menores que não podem ser vistos diretamente.
Por que a poeira conta a história dos planetas
Discos de detritos representam uma fase intermediária da evolução de sistemas planetários: após a formação em nuvens de gás e poeira, parte do material vira planetas enquanto o restante colide e gera partículas finas. Esses discos são, portanto, um registro da atividade de asteroides e cometas e da arquitetura do sistema nas primeiras dezenas de milhões de anos.
O instrumento SPHERE possibilita detectar esses sinais ao bloquear a luz direta da estrela com um coronógrafo, corrigir distorções atmosféricas com óptica adaptativa e aumentar a sensibilidade à luz refletida pela poeira com filtros de polarização.
O que as imagens revelaram
O levantamento mostrou grande diversidade: anéis estreitos, cinturões difusos, discos assimétricos e sistemas vistos de várias inclinações. Quatro dos discos foram registrados com esse nível de detalhe pela primeira vez. Em alguns casos os dados mostram fluxos de material que se estendem além do plano do sistema; em outros, bordas internas bem definidas sugerem a ação de planetas gigantes que “limpam” suas órbitas.
Os autores notaram padrões: estrelas mais massivas tendem a ter discos mais massivos, e sistemas com material concentrado a maiores distâncias também apresentam mais detritos.
Próximos passos: alvos para JWST e ELT
Embora alguns planetas gigantes já tenham sido detectados diretamente, o catálogo criado pelo SPHERE fornece uma lista prioritária de alvos para observações mais profundas com o James Webb Telescope e o futuro Extremely Large Telescope. Esses instrumentos poderão confirmar e caracterizar os exoplanetas responsáveis por esculpir os discos, avançando na compreensão da formação planetária.