Pesquisa realizada entre 2021 e 2024 mostra eficácia da liberação controlada de Aedes aegypti infectados com bactéria e reforça debate sobre expansão da técnica
Como a Wolbachia atua no controle da dengue
A estratégia consiste na introdução da bactéria Wolbachia em populações de Aedes aegypti. Presente naturalmente em muitas espécies de insetos, a Wolbachia não ocorre no Aedes selvagem e, quando instalada nos mosquitos transmissores, impede a multiplicação do vírus da dengue dentro do inseto, reduzindo a probabilidade de transmissão ao ser humano. Além disso, a bactéria causa um fenômeno chamado incompatibilidade citoplasmática que favorece sua disseminação na população de mosquitos.
Importante: estudos indicam que a Wolbachia é inofensiva para pessoas e outros vertebrados, o que torna a abordagem uma opção segura e de baixo impacto ambiental para controle de arboviroses.
Resultados em Campo Grande
Um estudo conduzido em parceria entre a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o World Mosquito Program (WMP) analisou dados entre 2021 e 2024 em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, e constatou uma redução superior a 60% nos casos de dengue na capital. A pesquisa foi divulgada pelo G1 e é considerada uma das evidências mais consistentes sobre o desempenho da tecnologia no Brasil.
O projeto em Campo Grande fez parte de um grupo inicial de municípios que adotaram a técnica em território brasileiro e recebeu financiamento do Ministério da Saúde em parceria com a Fiocruz.
Próximos passos: expansão e integração com outras estratégias
Com os resultados positivos, o governo federal avalia ampliar o uso da Wolbachia em outras localidades. Especialistas destacam que a tecnologia deve ser vista como complementar às ações tradicionais de controle do mosquito, como eliminação de criadouros e educação em saúde.
Na agenda de combate à dengue também entrou a aprovação técnica pela Anvisa da Butantan-DV, a primeira vacina de dose única contra a doença, que agora passa por etapa administrativa para registro. A combinação de vacinas, técnicas biológicas como a Wolbachia e medidas de vigilância pode fortalecer a resposta pública e reduzir ainda mais o impacto da dengue no país.
Reportagem baseada em informações divulgadas pelo G1 e em estudo da Fiocruz e do World Mosquito Program.